PRESIDÊNCIA DA CNBB DIVULGA NOTA
SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE
ECUMÊNICA 2021.
A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou,
nesta terça-feira, 9 de fevereiro, uma nota na qual esclarece pontos referentes
à realização da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, cujo tema é:
“Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa
paz. Do que era dividido fez uma unidade”, (Ef 2,14a).
O documento reafirma a Campanha da Fraternidade como uma marca e, ao
mesmo tempo, uma riqueza da Igreja no Brasil que deve ser cuidada e
melhorada sempre mais por meio do diálogo. Iluminado pela Encíclica Ut Unum
Sint, de 1999, do Papa São João Paulo II, o texto aponta também ser
necessário cuidar da causa ecumênica.
Sobre o texto-base da CFE deste ano, os bispos afirmam que a publicação
seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs (CONIC), conselho responsável pela preparação e coordenação da
campanha da fraternidade em seu formato ecumênico. “Não se trata, portanto,
de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela
comissão da CNBB”, aponta a Nota.
No documento, a presidência da CNBB reafirma que a Igreja Católica tem sua
doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a
ela. “A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que ‘gênero é a
dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os
níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma.
O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à
pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo
corpo” (Pontifício Conselho para a Família, Lexicon – Termos ambíguos e
discutidos sobre família, vida e questões éticas., pág. 673).
A nota informa que os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS)
seguem rigorosa orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente
para o assunto, mas também a preocupação quanto à identidade dos projetos
atendidos. “Os recursos só serão aplicados em situações que não agridam os
princípios defendidos pela Igreja Católica”, reforça a nota.
A presidência da CNBB afirma, no parágrafo final, que apesar de nem sempre
ser fácil cuidar das dificuldades levantadas pela realização de uma Campanha
da Fraternidade e da caminhada ecumênica e de muitos outros aspectos da
ação evangelizadora da Igreja, nem por isso se deve desanimar e romper a
comunhão, o que segundo os bispos é uma das maiores marcas dos cristãos.
“Não desanimemos. Não desistamos. Unamo-nos”, exorta a presidência da
CNBB.
Conheça, abaixo, a íntegra do documento. Aqui a versão em PDF:
NOTA DA PRESIDÊNCIA DA CNBB
Irmãos e irmãs em Cristo Jesus,
“Não apagueis o Espírito, não desprezais as profecias,
mas examinai tudo e guardai o que for bom” (1 Ts 5,21)
1. No exercício de nossa missão evangelizadora, deparamo-nos com inúmeros
desafios, diante dos quais não podemos esmorecer, mas, ao contrário, buscar
forças para responder com tranquilidade e esperança.
2. Nosso país vive um tempo entristecedor, com tantas mortes causadas pela
covid-19, um processo de vacinação que gostaríamos fosse mais rápido e uma
população que se cansou de seguir as medidas de proteção sanitária. Nosso
coração de pastores sofre diante de tantas sequelas que surgem a partir da
pandemia, em especial o empobrecimento e a fome.
A Campanha da Fraternidade 2021 e suas características
3. Em meio a tudo isso e atendendo à solicitação de irmãos bispos, desejamos
abordar a Campanha da Fraternidade deste ano. Algumas afirmações têm
ocasionado insegurança e mesmo perplexidade.
4. Como sabemos, a Campanha da Fraternidade é uma riqueza da Igreja no
Brasil, nascida e amadurecida não sem dificuldades e mesmo sofrimentos. A
cada Campanha, o aprendizado se fortalece e se mostra continuamente
necessário. Assim acontece com cada tema escolhido e assim acontece
quando as Campanhas, desde o ano 2000, são feitas em modo ecumênico.
5. Para este ano, o tema escolhido foi o diálogo, com o tema, portanto,
fraternidade e diálogo: compromisso de amor. Trata-se, como explicado nas
formações feitas pelo nosso Setor de Campanhas, do recolhimento dos temas
anteriores, em especial desde 2018, que tratou da superação da violência, até
2020, quando apresentou-se a proposta cristã do cuidado.
6. Para 2021, conforme aprovação em nossa Assembleia Geral de 2018, a
Campanha foi construída ecumenicamente e, conforme costume desde o ano
2000, sob a responsabilidade do CONIC. Nas primeiras reuniões, discerniu-se
pelo tema do diálogo, urgência num tempo de polarizações e fanatismos,
cabendo então ao CONIC a construção do texto-base. Isso foi feito conforme
está explicado na apresentação do mesmo, com detalhamento da equipe
elaboradora, na pág. 9.
7. Consequentemente, o texto seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do
CONIC. Foram realizadas várias reuniões, o texto passou por revisão da
assessoria teológica do CONIC, uma assessoria com membros das diversas
igrejas, chegando, então, ao que hoje temos. Não se trata, portanto, de um
texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado pela comissão da CNBB,
pois são duas compreensões distintas, ainda que em torno do mesmo ideal de
servir a Jesus Cristo. O texto-base desse ano, por conseguinte, deve ser assim
compreendido, como o foi nas Campanhas da Fraternidade levadas a efeito de
modo ecumênico.
Algumas questões específicas
8. Nos últimos dias, reações têm surgido quanto ao texto. Apresentam
argumentos que esquecem da origem do texto, desejando, por exemplo, de
uma linguagem predominantemente católica. Trazem ainda preocupações com
relação a aspectos específicos, a saber, as questões de gênero, conforme os
números 67 e 68 do referido texto.
9. A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que “gênero é a
dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os
níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma.
O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à
pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo
corpo” (Pontifício Conselho para a Família, Lexicon – Termos ambíguos e
discutidos sobre família, vida e questões éticas., pág. 673).
Uma ajuda destacável
10. Já pronto o texto-base, fomos presenteados com a Fratelli Tutti, que
recomendamos vivamente seja também utilizada como subsídio para a
Campanha da Fraternidade deste ano. Ela estabelece forte conexão entre o
tema de 2020 e o de 2021, cuidado e diálogo, e muito ajudará na reflexão
sobre o diálogo e a fraternidade.
Coleta da Solidariedade
11. Junto com essas preocupações de conteúdo, surgiu ainda a sugestão de
que não se faça a oferta da solidariedade no Domingo de Ramos, uma vez que
existiria o risco de aplicação dos recursos em causas que não estariam ligadas
à doutrina católica.
12. Lembramos que, em 2019, foi distribuída pelo Fundo Nacional de
Solidariedade – FNS a quantia de R$3.814.139,81, fruto da generosidade de
nossas comunidades, não se incluindo nessa quantia o que foi destinado aos
fundos diocesanos. Em 2020, por causa da pandemia, não ocorreu
arrecadação. Somente com a ajuda da instituição alemã Adveniat conseguimos
atender a 15 projetos.
13. Sobre isso, recordamos que o FNS segue rigorosa orientação, obedecendo
não apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também
preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos. Desde o início da
construção da Campanha da Fraternidade de 2021, temos informado ao
CONIC a respeito da dificuldade e até mesmo da impossibilidade de
mantermos a estrutura do Fundo de Solidariedade como ocorrido nas
Campanhas ecumênicas anteriores. Sobre este ponto, tendo como base a
última dessas Campanhas, a de 2016, esta Presidência já manifestou ao
CONIC as dificuldades e, por espírito de comunhão e corresponsabilidade, vai
conversar sobre o assunto na próxima reunião do CONSEP. A conclusão será
informada em seguida.
Desse modo:
14. Em consequência, respeitando a autonomia de cada irmão bispo junto aos
seus diocesanos e como não poucos irmãos nos têm solicitado indicações para
informar ao povo sobre a CF 2021, consideramos importante que sejam
destacados os seguintes aspectos:
1. A Campanha da Fraternidade é um valor que não podemos descartar.
2. Alguns temas, conforme seu modo de ser apresentado, tornam-se mais
difíceis que outros.
3. A Igreja tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de
gênero e se mantém fiel a ela.
4. Os recursos do Fundo Nacional de Solidariedade serão aplicados em
situações que não agridam os princípios defendidos pela Igreja Católica.
5. A causa ecumênica se mantém importante. “Uma comunidade cristã
que crê em Cristo e deseja com o ardor do Evangelho a salvação da
humanidade não pode de forma alguma fechar-se ao apelo do Espírito
que orienta todos os cristãos para a unidade plena e visível … O
ecumenismo não é apenas uma questão interna das comunidades
cristãs, mas diz respeito ao amor que Deus, em Cristo Jesus, destina ao
conjunto da humanidade; e criar obstáculos a este amor é uma ofensa a
Ele e ao Seu desígnio de reunir todos em Cristo” (S. João Paulo II,
Encíclica Ut Unum Sint, 99)
15. Concluímos lembrando a importância da Campanha da Fraternidade na
história da evangelização do Brasil. É nossa marca. Cabe-nos cuidar dela,
melhorá-la sempre mais por meio do diálogo, assim como nos cabe cuidar da
causa ecumênica, um ideal que se nos impõe. Se nem sempre é fácil cuidar de
ambos e de muitos outros aspectos de nossa ação evangelizadora, nem por
isso devemos desanimar e romper a comunhão, uma de nossas maiores
marcas, um tesouro que o Senhor Jesus nos deixou e do qual não podemos
abrir mão. Não desanimemos. Não desistamos. Unamo-nos.
Brasília-DF, 09 de fevereiro de 2021.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima (RR)
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB
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